Por que a Europa quase não tem arranha-céu?

By 21 de março de 2024 Eventos Sem comentários
Shard London Bridge, em Londres, está entre os edifícios mais altos da Europa.
Crédito: Envato

Ao pensar em arranha-céus, geralmente vêm à cabeça os grandes edifícios que estão sendo construídos na Ásia e Oriente Médio ou então os altíssimos prédios em Nova York. Neste quesito, o velho continente costuma ficar de fora. Mas por que a Europa quase não tem arranha-céus?

Atualmente, alguns dos prédios mais altos do continente são o Lakhta Center (São Petersburgo, Rússia) com 462 metros de altura e o Shard London Bridge (Londres, Inglaterra) com 310 metros. Ainda assim, o Burj Khalifa, edifício mais alto do mundo atualmente, tem 828 metros de altura (quase o dobro do Lakhta Center). Além disso, recentemente, Paris voltou a proibir a construção de arranha-céus. Por que isso acontece?

Para a arquiteta Maira Faria, isto se deve ao fato de o continente valorizar a história e a integração com a paisagem urbana tradicional. “Muitos centros urbanos europeus priorizam um desenvolvimento mais equilibrado por já existirem políticas públicas de preservação das edificações seculares. Isso não quer dizer que não exista o desejo evidente de grandes incorporadoras de encontrarem uma saída para seus arranha-céus modernos. Também, com exceção das grandes metrópoles, dependendo da região, principalmente cidades do interior, a construção de arranha-céus não acompanha e muitas vezes não justifica o ritmo da cidade”, explica Maira.

Alessandro Lopes, arquiteto e urbanista, complementa que, historicamente, as cidades europeias desenvolveram-se em torno de edifícios mais baixos e estruturas históricas, muitas das quais remontam a séculos atrás. “A preservação da arquitetura tradicional e da estética urbana tem sido uma prioridade nessas cidades, levando a restrições de altura para novos edifícios”, comenta.

Outro ponto é que o espaço urbano na Europa é frequentemente limitado e já está ocupado por edifícios mais antigos e monumentos históricos. “Isso dificulta a construção de arranha-céus modernos, que demandam grandes áreas de terreno”, afirma Lopes.

 Ainda, na Europa há uma preocupação com a preservação das vistas panorâmicas e do horizonte das cidades europeias, muitas das quais são conhecidas por suas paisagens urbanas distintas. “Restringir a altura dos edifícios ajuda a manter essas características visuais que são valorizadas tanto pelos residentes quanto pelos visitantes”, aponta Lopes.

Desafios para construir arranha-céus na Europa

Um dos pontos mais desafiadores para a construção de arranha-céus na Europa é a infraestrutura das cidades. “Muitas já têm uma estrutura urbana consolidada ao longo dos séculos, dificultando a inserção de edifícios altos sem impactar negativamente o ambiente. E aí estamos falando desde o impacto visual (mais proeminente e óbvio), mas muito mais a fundo, como infraestrutura dessas edificações, que, precisam também ser novas e modernas, com sistema de esgoto, aquecimento, ar-condicionado, até mesmo tecnologias de placas solares, economia de água e automação. Portanto não envolve apenas o m² de locação do edifício, mas todo o ecossistema em torno dele, que exigirá também uma modernização, na visão de quem o implementa e do usuário comprador”, destaca Maira. 

Outra questão diz respeito ao planejamento urbano. “Uma das grandes discussões – prudentes – quando se fala em edificações novas em centros históricos é o planejamento urbano integrado para evitar congestionamentos, proporcionar segurança, áreas de lazer e serviços próximos, como farmácias, cafeterias, etc. Além disso, há a preocupação com a preservação cuidadosa de edifícios históricos adjacentes, levando em consideração o seu real valor, e evitando de ofuscá-los ou ignorá-los com a construção dos novos. De novo, repito, a preservação do património vai muito além da edificação física, mas do que ela representa para a sociedade e para a cultura daquele povo”, afirma Maira.  

Quais seriam as consequências de construir arranha-céus na Europa?

De acordo com Maira, as consequências podem ser tanto positivas quanto negativas. “Do lado positivo, há a possibilidade de revitalização de áreas urbanas e a criação de espaços mais modernos e funcionais, que atendam as necessidades atuais do usuário. Já no lado negativo, há a possível descaracterização da paisagem histórica e também desafios relacionados à qualidade de vida e coesão social que precisam ser cuidadosamente considerados e gerenciados”, opina a arquiteta. 

Lakhta Center, em São Petersburgo, está entre os edifícios mais altos da Europa.
Crédito: Envato

Já Lopes vê que a construção de mais arranha-céus poderia impulsionar a inovação arquitetônica, resultando em edifícios icônicos e futuristas que se tornariam marcos emblemáticos das cidades europeias. “Essas estruturas poderiam incorporar tecnologias avançadas, como fachadas inteligentes, sistemas de energia renovável integrados e design sustentável, elevando o padrão estético e funcional das cidades”, sugere. 

Da mesma forma, Lopes acredita que, com o aumento da verticalização, as cidades europeias poderiam explorar novas formas de integração vertical, criando espaços urbanos tridimensionais que combinam áreas residenciais, comerciais, culturais e verdes em diferentes níveis. “Essa abordagem inovadora poderia otimizar o uso do espaço urbano, promover a conectividade entre bairros e oferecer experiências urbanas diversificadas”, indica.

Por outro lado, Lopes também menciona que a construção desenfreada de arranha-céus sem políticas adequadas de habitação acessível poderia agravar a desigualdade social nas cidades europeias. “A concentração de riqueza em determinadas áreas verticais poderia criar divisões socioeconômicas profundas, excluindo comunidades marginalizadas e contribuindo para a segregação urbana”, defende.

Outro ponto desafiador é o impacto ambiental. “Se a construção dos arranha-céus não seguir práticas sustentáveis, poderia resultar em sérios impactos ambientais negativos. O aumento do consumo de energia, a geração de resíduos de construção e a emissão de poluentes poderiam sobrecarregar os ecossistemas urbanos, comprometer a qualidade do ar e da água, além de acelerar as mudanças climáticas”, pontua Lopes.

Entrevistados:

Maira Faria é arquiteta com mais de 13 anos experiência de mercado, dos quais, por 02 anos e meio, residiu em Milão, Itália, onde esteve à frente de projetos de interiores de sua autoria entre 2016 e 2019. Sua carreira soma-se com os 04 anos que contribuiu como arquiteta no renomado escritório Jayme Bernardo Arquitetura, gerenciando projetos de alto padrão na cidade de Curitiba, entre os anos de 2012 e 2016. Hoje, dedica-se intensamente em criar projetos corporativos e comerciais.

Alessandro Lopes é arquiteto e urbanista, professor de arquitetura da Esamc Santos especializado em cidades inteligentes e infraestrutura urbana. 

Contatos
*Ambas as fontes foram através da mesma assessora de imprensa – bartirabetini@gmail.com

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.

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